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Ulisses Lalio

Há dois anos, o governador Mauro Mendes (União) iniciou uma verdadeira saga para estadualizar o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães. Ao longo da sua gestão montou uma força-tarefa para conquistar seu objetivo e traçou três estratégias para isso - acordo com o Planalto, mudança na legislação e via Judiciário.

O objetivo, segundo o próprio chefe do Executivo, é impulsionar o turismo na região ao injetar R$ 200 milhões no parque. Contudo, a intenção é questionada por ambientalistas e parlamentares de oposição que veem na proposta uma maneira de fragilizar a fiscalização e interesses econômicos ligados ao garimpo de ouro e pedras preciosas.

As tentativas remontam à gestão do ex-presidente e forte aliado de Mendes, Jair Bolsonaro (PL). A primeira investida oficial do governador foi em julho de 2021, quando se encontrou com o presidente e a sua equipe de ministros, em Brasília. Na ocasião, Mauro declarou que um dos tópicos da conversa com Bolsonaro foi um pedido para que o parque passasse a ser gerido pelo Estado e saísse das mãos do Instituto Chico Mendes de Bioconservação (ICMBio).

Após o encontro, no dia 28 de julho, o governador divulgou vídeo em suas redes sociais detalhando a conversa. Pedimos para o governo federal passar ao governo de Mato Grosso a gerência, a gestão sobre o Parque da Chapada dos Guimarães, porque queremos fazer um grande investimento na área do turismo, da preservação, mudar o plano de manejo e com isso usar melhor aquele parque, preservando ele também, evitando ali grandes queimadas como já aconteceram muitas vezes, declarou.

Os pedidos de estadualização foram ignorados pela equipe de Bolsonaro que meses depois anunciou que abriria edital com objetivo de terceirizar o atendimento ao público para a iniciativa privada.

A medida irritou sobremaneira o chefe mato-grossense que na época criticou o aliado. Nós fizemos um pleito ao governo federal para que nós pudéssemos ter o controle daquele parque. Verbalmente negaram dizendo que iriam fazer privatização. O fato é que o governo federal não investiu e não deixou nós investirmos ali, porque nem o projeto do Véu das Noivas, que está pronto e foi apresentado, não recebemos autorização para seguir em frente, desabafou Mendes.

MT passará próximo de mineradora

Em meio às medidas previstas na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) para essa semana e que tratam de temas referentes ao meio ambiente, o governo anunciou os primeiros passos para a construção da MT-030 - chamada pelos deputados de Rodovia da Integração. A estrada passará a 4 km da Mineradora Casa de Pedra.

O governo estadual licitou um trecho de 4,6 quilômetros no fim do perímetro urbano de Cuiabá até a Ponte de Ferro, sobre o rio Coxipó, sentido Coxipó do Ouro. A construtora vencedora da licitação foi a Nhambiquaras e o valor total do contrato é de R$ 8.278.025,16. O prazo de conclusão é de 180 dias. A previsão para que a estrada esteja pavimentada e concluída até o trecho da Ponte de Ferro é fevereiro do próximo ano.

Por conta da notícia, o deputado da base governista Ondanir Bortolini, o Nininho (PSD), realizou audiência pública para debater a rodovia, na última quinta-feira (5). Com base nas informações repassadas pelo parlamentar, no edital de licitação e no termo de referência da contratação, é possível indicar o trajeto da MT-030. Após atravessar a Ponte de Ferro e o Rodoanel, a rodovia seguirá até o trecho onde encontra o linhão da usina do Rio da Casca. A rodovia segue paralela ao linhão, na chamada Estrada Velha, passando por área de mineração da Comunidade Rio dos Médicos.

Conforme ambientalistas consultados pela Gazeta, o trecho poderá extinguir e afetar sítios históricos e arqueológicos, Comunidades Rurais Negras Tradicionais e uma importante área de enterramentos secundário do povo Bororo. Esse traçado é inexequível. É insano. Querem subir o Assentado do Xavier e depois o paredão do Mirante, antes da subestação de energia.

Vão impactar a lapa do Frei Kanuto, a lapa do Xavier, a Cachoeira da Bailarina, a área dos sepultamentos secundários dos indígenas Bororo e o próprio Mirante. Sem contar as comunidades negras do córrego dos médicos, buritizal, rio dos couros, disse o fotógrafo e morador de Chapada dos Guimarães há mais de 40 anos, Mario Friedlander.

Fonte: Gazeta Digital